Por todo o Nordeste, as patas estão sendo trocadas pelas rodas. Até pouco tempo eram só eles, os jegues, que pegavam no pesado. Como o Calunga. Em época de seca, trabalha dobrado.
Mas o progresso levou para o interior a tecnologia. As motos passaram a fazer as tarefas dos jumentos. Transporte de carga e transporte de gente.
“O jumento você tem que estar dando de comer e tem trabalho e a moto não”, disse um homem.
E o resultado dessa mudança de vida está na beira das estradas. Animais abandonados, sem destino. Felizmente, ainda existem lugares onde eles são reis.
Estamos em Panelas, no agreste de Pernambuco. Lá, o jumento é merecedor de homenagens. Ganhou estátuas em praça pública.
Todos os anos, a cidade faz uma grande festa: é a tradicional corrida de jericos. Uma maneira de agradecer o esforço do bicho tão companheiro.
Se os jumentos trabalham pra burro, com algumas jumentas a situação é bem diferente. Algumas são tratadas como rainhas. E por uma boa razão: o leite delas vale ouro.
R$ 20 o litro. São 10 jumentas bem alimentadas e tratadas com toda a mordomia.
“Quem compra este leite são pessoas que sofrem de gastrite, pneumonia, tuberculose, úlcera e muito mais”, afirmou Jair Severino da Silva, produtor de leite.
A equipe do Globo Repórter foi para a zona da mata conhecer uma jumenta muito especial. Ela é ansiosamente esperada nas comunidades rurais de Amaraji.
Mimosa vem acompanhada pelo filhote, Mimosinho, e em pouco tempo é enfeitada para ser a estrela do projeto de leitura.
Pra funcionar como uma biblioteca ambulante, o jumento precisa ser tranquilo, calmo, dócil, assim como a Mimosa.
De visita em visita, o animal que é tão importante para os nordestinos ajuda a criar o hábito de leitura, onde o livro era uma raridade.
“E parece que às vezes percebe que está fazendo o bem. Eu tenho certeza que ele se sente muito importante. E ele é”, ressaltou Gonzaga Lopes, coordenador do projeto.